19 junho 2015

imagem: Josephine Wall

Saturno volta a Escorpião: a travessia pelo reino sombrio e o resgate do poder feminino.

A passagem de Saturno pelo signo de Escorpião nos últimos dois anos e meio representou um resgate de temas como sexualidade, morte, desapego e transformação de ordem emocional, trazendo à consciência [coletiva] a discussão de temas tabus em nossa cultura.
Ao iniciar o movimento retrógrado, Saturno que já havia adentrado o signo de Sagitário, retorna a Escorpião no período entre 15 de junho e 18 de setembro de 2015, coroando e consolidando a temática suscitada.
Saturno nos impõe o pesar e a responsabilidade sobre algo, nos força a amadurecer e encarar em termos práticos as consequências e limitações de algo que se apresenta.
Com a temática escorpiana em voga, o que estava oculto vem à tona, e assim vimos se exaltarem principalmente assuntos relacionados com a sexualidade, como a capacidade da mulher de parir, as questões de gênero envolvidas na vivência da sexualidade em todas as suas dimensões, como se esta temática estivesse expurgando o resultado, a revolta e o rancor por tudo que historicamente determinou sua repressão.
Como manifestação destas temáticas, vemos mulheres querendo se empoderar no e do processo de parir. Resolve-se falar da dor do parto, e de todos assuntos até então não ditos sobre o tema, desvelando-se que para além da dor e da forma como historicamente o parto foi entendido, existe o poder feminino subjacente que nos foi impedido ou desvirtuado.
Desnuda-se, pois, a situação de que o parto para a mulher brasileira é uma experiência envolta de medo e dor, legitimada pelo poder médico que à sombra de impedir o processo natural de seu empoderamento, promete alívio de tal vivência negativa através dos milagres que a ciência proporciona. Vemos aqui operar a racionalidade (da ciência) versus o obscurantismo (dos instintos, da fisiologia e da natureza feminina). E agora com o fechamento da passagem de Saturno por Escorpião, vemos o resgate ou a tentativa da natureza de equilibrar o que lhe foi podado.
E assim, o que estava oculto ganha força e um novo significado. A experiência de parir passa por uma transformação perante a consciência [coletiva]. E com este processo de purificação e transformação alquímica de sentidos dinamizado pela passagem de Saturno por escorpião, a jornada ao reino obscuro da alma onde residem os aspectos mais sombrios, instintivos relacionados com o medo e com a dor que envolvem a vivência do parto vem a tona. Refletindo sobre esta temática, algumas questões podem nortear nossa jornada.
Por que as mulheres temem parir? De que maneira se construiu na mentalidade da mulher brasileira a incapacidade de parir? Como resgatar na mulher sua força interior de forma que ela possa vencer a tarefa heróica de parir?
O resgate das temáticas mitológicas envoltas nesta vivência pode nos auxiliar na busca pela compreensão das imagens arquetípicas associadas ao que se apresenta como esse expurgo, ou como um fenômeno que tem sido nomeado de um resgate da dimensão sagrada do feminino.
Conforme se pode observar em diferentes mitos, a primeira tarefa arquetípica relacionada com a etapa escorpiana é o enfrentamento do medo e a superação dos aspectos inferiores da personalidade a partir do resgate da sombra para o reino da luz, ou da consciência.
Hércules em seu sétimo trabalho resgata a Hidra do lamaçal representando esse processo. Buda enfrentou seus medos sob a árvore bodhi quando uma serpente se aproximou e nele se enroscou sete vezes.
O processo de integração entre sombra (inconsciente) e luz (consciente), ou entre masculino e feminino, também é retratado nos mitos da descida de Ishtar ao mundo subterrâneo em busca do amante Tammuz, Orfeu em busca de Eurídice no mundo subterrâneo, e o rapto de Perséfone por Hades, quando é restabelecido o equilíbrio das energias masculina e feminina no mundo inferior.
O que podemos compreender neste processo é que ao trazer à consciência o conteúdo sombrio que envolve esta vivência, podemos concluir que somente a passagem vitoriosa pelo reino de Hades, ou pelo reino das sombras poderá resgatar na mulher o poder de se assumir mulher em sua plenitude, e com ele o poder de parir. Ou seja, quando ela se depara com a tarefa de parir e encara os medos associados, ela transita por este reino sombrio, mas encontra nesta jornada a riqueza de seu próprio poder.
E como fazer a travessia pelo reino sombrio ser uma tarefa bem sucedida?
Somente crendo que ela é capaz, ela o será. Somente acessando internamente uma referência de força e resistência, e ao mesmo tempo de confiança na sua própria natureza ancestral e instintiva, é que a mulher poderá abrir espaço para uma experiência positiva sobre o parto, e assim atribuir ao processo fisiológico de parir sentidos positivos e necessários a sua própria transformação como mulher.
Este espaço interno é um lugar onde a mulher se sente à vontade com a sua sexualidade e assim pode se entregar à experiência de parir, obter sucesso nesta jornada, e mais que isso, referenciar essa como uma experiência positiva de encontro com a própria potência feminina.



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