imagem: Josephine Wall
Saturno volta a Escorpião: a
travessia pelo reino sombrio e o resgate do poder feminino.
A passagem de Saturno pelo signo de Escorpião nos últimos
dois anos e meio representou um resgate de temas como sexualidade, morte,
desapego e transformação de ordem emocional, trazendo à consciência [coletiva]
a discussão de temas tabus em nossa cultura.
Ao iniciar o movimento retrógrado, Saturno que já
havia adentrado o signo de Sagitário, retorna a Escorpião no período entre 15
de junho e 18 de setembro de 2015, coroando e consolidando a temática
suscitada.
Saturno nos impõe o pesar e a responsabilidade sobre
algo, nos força a amadurecer e encarar em termos práticos as consequências e
limitações de algo que se apresenta.
Com a temática escorpiana em voga, o que estava
oculto vem à tona, e assim vimos se exaltarem principalmente assuntos
relacionados com a sexualidade, como a capacidade da mulher de parir, as
questões de gênero envolvidas na vivência da sexualidade em todas as suas
dimensões, como se esta temática estivesse expurgando o resultado, a revolta e
o rancor por tudo que historicamente determinou sua repressão.
Como manifestação destas temáticas, vemos mulheres
querendo se empoderar no e do processo de parir. Resolve-se falar da dor do
parto, e de todos assuntos até então não ditos sobre o tema, desvelando-se que
para além da dor e da forma como historicamente o parto foi entendido, existe o
poder feminino subjacente que nos foi impedido ou desvirtuado.
Desnuda-se, pois, a situação de que o parto para a
mulher brasileira é uma experiência envolta de medo e dor, legitimada pelo
poder médico que à sombra de impedir o processo natural de seu empoderamento,
promete alívio de tal vivência negativa através dos milagres que a ciência
proporciona. Vemos aqui operar a racionalidade (da ciência) versus o
obscurantismo (dos instintos, da fisiologia e da natureza feminina). E agora
com o fechamento da passagem de Saturno por Escorpião, vemos o resgate ou a
tentativa da natureza de equilibrar o que lhe foi podado.
E assim, o que estava oculto ganha força e um novo
significado. A experiência de parir passa por uma transformação perante a
consciência [coletiva]. E com este processo de purificação e transformação
alquímica de sentidos dinamizado pela passagem de Saturno por escorpião, a
jornada ao reino obscuro da alma onde residem os aspectos mais sombrios,
instintivos relacionados com o medo e com a dor que envolvem a vivência do
parto vem a tona. Refletindo sobre esta temática, algumas questões podem
nortear nossa jornada.
Por que as mulheres temem parir? De que maneira se
construiu na mentalidade da mulher brasileira a incapacidade de parir? Como
resgatar na mulher sua força interior de forma que ela possa vencer a tarefa
heróica de parir?
O resgate das temáticas mitológicas envoltas nesta
vivência pode nos auxiliar na busca pela compreensão das imagens arquetípicas
associadas ao que se apresenta como esse expurgo, ou como um fenômeno que tem
sido nomeado de um resgate da dimensão sagrada do feminino.
Conforme se pode observar em diferentes mitos, a
primeira tarefa arquetípica relacionada com a etapa escorpiana é o
enfrentamento do medo e a superação dos aspectos inferiores da personalidade a
partir do resgate da sombra para o reino da luz, ou da consciência.
Hércules em seu sétimo trabalho resgata a Hidra do
lamaçal representando esse processo. Buda enfrentou seus medos sob a árvore
bodhi quando uma serpente se aproximou e nele se enroscou
sete vezes.
O processo de integração entre sombra (inconsciente)
e luz (consciente), ou entre masculino e feminino, também é retratado nos mitos
da descida de Ishtar ao mundo subterrâneo em busca do amante Tammuz, Orfeu
em busca de Eurídice no mundo subterrâneo, e o rapto de Perséfone por Hades,
quando é restabelecido o equilíbrio das energias masculina e feminina no mundo
inferior.
O que podemos compreender neste processo é que ao
trazer à consciência o conteúdo sombrio que envolve esta vivência, podemos
concluir que somente a passagem vitoriosa pelo reino de Hades, ou pelo reino
das sombras poderá resgatar na mulher o poder de se assumir mulher em sua
plenitude, e com ele o poder de parir. Ou seja, quando ela se depara com a
tarefa de parir e encara os medos associados, ela transita por este reino
sombrio, mas encontra nesta jornada a riqueza de seu próprio poder.
E como fazer a travessia pelo reino sombrio ser uma
tarefa bem sucedida?
Somente crendo que ela é capaz, ela o será. Somente
acessando internamente uma referência de força e resistência, e ao mesmo tempo
de confiança na sua própria natureza ancestral e instintiva, é que a mulher
poderá abrir espaço para uma experiência positiva sobre o parto, e assim
atribuir ao processo fisiológico de parir sentidos positivos e necessários a
sua própria transformação como mulher.
Este espaço interno é um lugar onde a mulher se sente
à vontade com a sua sexualidade e assim pode se entregar à experiência de
parir, obter sucesso nesta jornada, e mais que isso, referenciar essa como uma
experiência positiva de encontro com a própria potência feminina.
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